"Ninguém pode dizer: "vou compor poesia". Nem o maior poeta o pode afirmar, pois, ao criar, o espírito é como brasa que se extingue, mas que uma influência invisível, qual vento constante, desperta para um fulgor transitório; este poder nasce de dentro, como a cor de uma flor que desmaia e muda à medida que se desenvolve, e a parte consciente da nossa natureza é incapaz de profetizar, quer a sua aproximação quer o seu afastamento: pudesse esta influência perdurar na pureza e força originais, e seria impossível predizer a grandeza dos resultados; porém, quando se inicia a composição, a inspiração está já em declínio, e a mais gloriosa poesia que alguma vez se comunicou ao mundo é provavelmente uma ténue sombra das concepções originais do poeta. Invoco o testemunho dos maiores poetas do presente: não será um erro afirmar que os mais belos trechos poéticos são produto do labor e do estudo? O labutar e o proletar recomendados pelos críticos podem, numa interpretação justa, não significar mais do que uma cuidadosa observância dos momentos de inspiração e uma ligação artificial das suas sugestões, preenchendo os espaços entre elas com a intertextura de expressões convencionais, uma necessidade imposta apenas pelas limitações da própria faculdade poética (...)."



Percy Bysshe Shelley

"Defesa da Poesia", Poesia Romântica Inglesa

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