Michelangelo Antonioni

(...) “O Eclipse” é talvez o mais fabuloso filme da história do cinema sobre a ausência do amor, ou sobre a incapacidade de viver o amor enquanto sentimento mobilizador e catalisador de felicidade entre seres humanos. Como acontecerá na obra posterior de Antonioni (“Deserto Vermelho”) é a personagem feminina, protagonizada pela fascinante Monica Vitti, quem encarna a personificação da tragédia do vazio e da incomunicabilidade do ser humano com as concepções existenciais do mundo novo-burguês. Em “O Eclipse”, também é Vitti quem interpreta a jovem de origem humilde, com uma mãe viciada no jogo primordial do capitalismo popular, a Bolsa, que rompe uma relação de amor de vários anos com um homem financeiramente bem sucedido. As causas da separação, que surgem sugeridas nessa opacidade sempre constante no modo como Antonioni vislumbra as relações entre as suas personagens, são o vazio, o tédio, e poder-se-iam resumir numa frase enunciadora do estado de eclipse do sentimento, na afirmação da própria negação, como o é esse lapidar exercício de termo que consiste no “gostaria de te amar ou amar-te mais”.

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