Flores do Mal

Mas, loba, o coração todo ternuras plenas

Aleitava o universo com tetas morenas.

Ágil no seu vigor, o homem em boa lei

Podia envaidecer-se ao chamarem-no rei;

Frutos puros de ultraje e virgens feridas

De carne lisa e firme evocando mordidas.

Hoje, o Poeta quando almeja imaginar

Tal grandeza nativa onde vá contemplar

A nudez da mulher perto da nudez do homem

Sente arrepios negros, os que a alma consomem.

A este negro painel, uma imagem de espanto.

Ah, monstruosidades que esperam um manto!

Troncos dignos de máscaras, ridículos, desnudos,

Pobres corpos torcidos, flácidos ou ventrudos,

E que o Útil, este deus sereno e sem cansaço

Logo à infância envolveu em tristes cueiros de aço.


Baudelaire


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